em essência.
Os salários mal dão para os gastos,
as guerras não terminaram
e há vírus novos e terríveis,
embora o avanço da medicina.
Volta e meia um vizinho
tomba morto por questão de amor.
Há filmes interessantes, é verdade,
e como sempre, mulheres portentosas nos seduzem
com suas bocas e pernas,
mas em matéria de amor
não inventamos nenhuma posição nova.
Alguns cosmonautas ficam no espaço seis meses ou mais,
testando a engrenagem
e a solidão.
Em cada olimpíada há recordes previstos e
nos países, avanços e recuos sociais.
Mas nenhum pássaro mudou seu canto
com a modernidade.
Reencenamos as mesmas tragédias gregas,
Reencenamos as mesmas tragédias gregas,
relemos o Quixote,
e a Primavera chega pontualmente cada ano.
Alguns hábitos,
Alguns hábitos,
rios e florestas se perderam.
Ninguém mais coloca cadeiras na calçada
ou toma a fresca da tarde,
mas temos máquinas velocíssimas
que nos dispensam de pensar.
Sobre o desaparecimento dos dinossauros
Sobre o desaparecimento dos dinossauros
e a formação das galáxias
não avançamos nada.
Roupas vão e voltam com as modas.
Governos fortes caem,
outros se levantam,
países se dividem
e as formigas e abelhas continuam
fiéis ao seu trabalho.
Nada mudou em essência.
Cantamos parabéns nas festas,
Nada mudou em essência.
Cantamos parabéns nas festas,
discutimos futebol na esquina
morremos em estúpidos desastres
e volta e meia
um de nós olha o céu quando estrelado
com o mesmo pasmo das cavernas.
E cada geração, insolente,
continua a achar
que vive no ápice da história.
***
Affonso Romano de Sant'Anna
***
Affonso Romano de Sant'Anna
2 comentários:
Muito bonitas as suas fotos dos Jerónimos, são magníficas!
Cumpts,
Cristina Fernandes
Olá, Boldt
Estive aqui a admirar suas fotografias.
A respeito do poema, li uma frase do geógrafo e pensador Milton Santos, "O sonho obriga o homem a pensar."
Essa palavra "SONHO", em nossos dias, provavelmente desvia nossa atenção para o lado errado.
Um grande abraço
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