terça-feira, 12 de maio de 2009

Amigos, nada mudou
em essência.

Os salários mal dão para os gastos,
as guerras não terminaram
e há vírus novos e terríveis,
embora o avanço da medicina.

Volta e meia um vizinho
tomba morto por questão de amor.

Há filmes interessantes, é verdade,
e como sempre, mulheres portentosas nos seduzem
com suas bocas e pernas,
mas em matéria de amor
não inventamos nenhuma posição nova.

Alguns cosmonautas ficam no espaço seis meses ou mais,
testando a engrenagem
e a solidão.

Em cada olimpíada há recordes previstos e
nos países, avanços e recuos sociais.

Mas nenhum pássaro mudou seu canto
com a modernidade.

Reencenamos as mesmas tragédias gregas,
relemos o Quixote,
e a Primavera chega pontualmente cada ano.

Alguns hábitos,
rios e florestas se perderam.

Ninguém mais coloca cadeiras na calçada
ou toma a fresca da tarde,
mas temos máquinas velocíssimas
que nos dispensam de pensar.

Sobre o desaparecimento dos dinossauros
e a formação das galáxias
não avançamos nada.

Roupas vão e voltam com as modas.
Governos fortes caem,
outros se levantam,
países se dividem
e as formigas e abelhas continuam
fiéis ao seu trabalho.

Nada mudou em essência.

Cantamos parabéns nas festas,
discutimos futebol na esquina
morremos em estúpidos desastres
e volta e meia
um de nós olha o céu quando estrelado
com o mesmo pasmo das cavernas.

E cada geração,
insolente,
continua a achar
que vive no ápice da história.

***

Affonso Romano de Sant'Anna

2 comentários:

Cristina Fernandes disse...

Muito bonitas as suas fotos dos Jerónimos, são magníficas!
Cumpts,
Cristina Fernandes

Meg Rodrigues disse...

Olá, Boldt

Estive aqui a admirar suas fotografias.

A respeito do poema, li uma frase do geógrafo e pensador Milton Santos, "O sonho obriga o homem a pensar."
Essa palavra "SONHO", em nossos dias, provavelmente desvia nossa atenção para o lado errado.

Um grande abraço